Estava tão concentrado - talvez deprimido, afinal era dia 12 e eu, primeira vez em muitos anos, estava sozinho - no trabalho que até me assustei ao me deparar com a visão daquele branco na minha frente. Era a Bia, que com aquele uniforme impecável bem que podia fazer propaganda de sabão em pó.
- Preciso falar com você. Na verdade, preciso de uma opinião masculina - ela disse, chamando a atenção dos outros caras do escritório.
- Ela falou UMA opinião - respondi, na direção deles.
Fomos tomar um café e escolhemos a mesinha do canto, apropriada para conversas íntimas.
- Sabe o que eu contei naquele post? Aconteceu de verdade! - ela falou, preocupada.
- E o que você quer que eu diga? Não estou mais a fim de levar bronca pela internet.
- Vai, deixa de frescura. O que você achou? Só escrevi pra saber se alguém já tinha passado por isso, mas ninguém comentou. Será que o problema é comigo?
- Espera aí, eu sempre deixo um comentário nos seus posts. E o problema não é com você, nem com ele, eu acho. Deve ter sido só um momento de fraqueza. Além do mais, vocês estavam em um restaurante, não é o lugar mais apropriado...
- Mas a moleza continuou! Inclusive no carro, quando começamos com os amassos.
- Bem, pode ter sido uma noite de fraqueza, o que também não chega a ser um absurdo.
- Mas não foi só nessa noite. Sempre que eu tenho uma oportunidade de conferir o estado dele, a situação é a mesma.
Olhei para ela sem saber muito o que dizer, mas não queria simplesmente queimar o filme do cara e estragar o começo de um namoro promissor. Tomei um gole grande de cáfé e continuei:
- Vocês já estão juntos há algum tempo, como é o desempenho dele?
- Não sei.
- Como assim, não sabe? Vocês nunca...
- Claro que já! Mas só uma vez, lá em Campos...
- Puxa, isso sim é preocupante. A média está pior do que minha. Mas era a Leandra quem me evitava, e não o contrário. E nós já tínhamos oito anos de namoro! Mas deixa isso pra lá e me conta: como foi dessa vez?
- Foi bem romântica. O chalé, os chocolates, o friozinho...
- Sei, sei... mas e ele, como foi?
- Ah... difícil dizer, foi legal. Tomamos uma garrafa de vinho naquela noite, e você sabe que quando eu bebo...
- Entendi.
- Então, estou me sentindo um lixo. Será que ele não sente tesão por mim?
- Bia, sinceramente não sei qual é a do doutor. Mas seja o que for, pode ter certeza de uma coisa: a culpa não é sua. Você é uma mulher linda e, com todo respeito, ou melhor, nem tanto, muito gostosa! Ainda mais com esse uniforme. Se eu estivesse no lugar do Machadão, pode ter certeza de que não perderia tempo para conferir o que você esconde por trás desse jaleco.
- Jotapê, você é um tarado!
- Tudo bem, eu me empolguei. Mas no seu atual estado, vou interpretar isso como um elogio...