segunda-feira, 24 de março de 2008

Feliz ano velho

Eu gosto de diamante negro, um chocolate forte, crocante na medida certa. Leandra sabe que eu gosto de diamante negro, e por isso me presenteia com o mesmo ovo de páscoa todos os anos. Eu devo reclamar por ganhar o que gosto da pessoa de quem eu gosto?

Para a Majô, sim. Ela acha que caímos numa rotina, Leandra e eu. Logo ela, que nem sequer se lembra de quando foi a última vez em que teve a oportunidade de repetir a mesma roupa em um encontro com um cara. Às vezes, ela nem mesmo se lembra dos caras, mas deixa pra lá.

Quando ela vai entender que, num namoro de oito anos, são construídas certas bases, todo um modo de vida que não pode ser implodido assim, de uma hora para outra?

- Aposto que vocês nem transam mais – provocou outro dia a Bia, dando razão a nossa amiga.

Por essa eu não esperava. Logo a Bia, que sempre, ou quase sempre, deu uma força para nós dois. Foi ela quem me impediu de terminar com Leandra, logo depois de completarmos três anos. E ficou do meu lado quando deixei a banda em que tocava por conta do ciúmes dela, ao contrário da Majô, que quis me matar. Bia estava quase sempre certa, para o meu desespero. E não foi diferente desta vez.

Passamos a Páscoa na casa dos pais de Leandra, no interior. E passamos os quatro dias – e, principalmente, as três noites – em branco. Tentei todo tipo de abordagem e técnica de sedução para convencê-la a fazer amor comigo, mas ela parecia de pedra.

- Alguém pode ouvir a gente – sussurrou, tirando minha mão debaixo da camisola dela.
- E daí? Nós até dormimos juntos na mesma cama. Seus pais deixaram de se importar com isso há muito tempo...
- Será que você só pensa em sexo? Eu sou só um pedaço de carne pra você?

Céus, a temida pergunta, para a qual eu nunca encontrava uma resposta adequada, como se houvesse alguma. Consegui apenas pedir desculpas, fazer novas juras de amor eterno e virar para o meu lado da cama, cabisbaixo, exceto por uma parte do corpo, é claro.

Hoje pela manhã, no escritório, enquanto despachava uns papéis sem importância, fiz as contas com calma e me espantei: Leandra e eu ainda não fizemos sexo em 2008. Nossa última vez foi na festa de fim de ano da firma, eu me lembrava bem. Quer dizer, nem tão bem porque acabei bebendo demais naquela noite...

Está bem, Majô, você venceu. Diamante negro é bom, mas como todo bom chocolate também é enjoativo.

3 comentários:

Majô disse...

hahahah desculpa, mas eu tenho que rir. Então quer dizer q vc não dá um crunch na Leandra desde o ano passado? hahahah Ai, pode parar, Jotapê! Vc reclama que eu falo, como se eu levantasse uma bandeira separatista o tempo todo, como se eu fosse uma radical-chata. Mas, eu tenho razão, vai? Olha, nada contra a Leandra. Quem vai ser contra a Leandra, uma menina que adora comer sonho de valsa? Mas fala sério!!!!

Bia disse...

Ai Jotapê, a situação está pior que eu imaginava... Já pensaram em terapia de casal?

Jotapê disse...

Ela que não nos ouça (ou leia). Se ela descobre que eu ando escrevendo sobre nossa intimidade, ou a falta dela... aí é que eu não saio do zero a zero mesmo.