sábado, 26 de abril de 2008

O médico e monstro

É estranho trabalhar em um hospital sem ser médico ou enfermeiro. Parece que ninguém se dá conta de que aquilo é como uma empresa qualquer, tem contas para pagar, um estoque para controlar, um inacreditável esquema de logística...

Mas deixa pra lá. Já me cansei e tenho certeza de que já cansei a paciência de todos ao meu redor com essa conversa furada. É que não consigo me acostumar a passar por um daqueles corredores e ser confundido com um médico. Se bem que, no começo, me sentia até honrado ao ver aqueles rostos doentes implorando pelo meu diagnóstico.

Muito bem, depois de duas semanas com uma gripe forte, a mesma que trouxe metade da cidade ao hospital, decidir descer e fazer uma consulta com o médico de plantão. Até imaginei encontrar a Bia pelos corredores, mas aquela hora ela devia estar em outro plantão ou de folga, é impossível acompanhar a rotina dela.

Pelo contrário, para a minha surpresa o médico do horário era ele: Dr. André Machado. Engraçado, ele não tem cara de Machado, está mais para André mesmo. Quero dizer, ele faz bem o tipo da maioria dos residentes: cara de moleque cheio da grana que está cumprindo a pena necessária para válidar o diploma e obter um mínimo de conhecimento antes de abrir o próprio consultório e atender apenas a clientes de (bons) convênios.

Sem me identificar, quer dizer, sem dizer que era amigo da enfermeira Bianca, contei a ele o meu caso. Como ele sabia que eu era funcionário do hospital, creio que consegui uma atenção maior do que a normal. De fato, ele foi muito gentil desde o começo.

- Tudo bem, suba ali na maca e tire a camisa - ele disse.

Até então, imaginei que tudo se tratava do procedimento clínico convencional. Até ele fazer um comentário que me deixou, literalmente, com o cabelo em pé:

- Puxa, quantos pêlos no tórax! Sabia que o meu peito é lisinho?

Ora, que diabos era isso? Creio que essa seria uma péssima cantada mesmo se eu fosse fosse gay.

- A mulhereda costuma gostar - falei, tentando descontrair e deixar claro as minhas preferências, mas já tenso.

Depois de examinar meu ouvido, garganta e pulmões, pediu-me para deitar na maca e começou a apertar minha barriga. Agora, tudo que fizesse teria uma conotação homossexual para mim. Até que ele voltou a me surpreender:

- A Bia me falou bastante de você, Jotapê. Como vão as coisas com a namorada?

A pergunta me deixou tão ou mais desconcertado do que a primeira. Ora, se ele sabia quem eu era e, pior, das minhas "convicções", digamos assim, por que agiu daquele jeito?

- Confusas - respondi. Tudo está muito confuso...

- Pois bem. Pode pôr a camisa e esconder esse peito peludo. Passe aí do lado e tome essa injeção de corticóide. Depois tome esses remédios que eu vou lhe prescrever e logo logo você vai se levantar.

- Doutor, eu não preciso de remédio nenhum pra me levantar, pelo menos por enquanto...

Ele sorriu e me disse se não podíamos marcar de sair um dia desses.

- Você quer dizer, você e eu...

- E a Bia e a Majô. E a Leandra, se você quiser.

- Oh, sim. Claro... Obrigado, doutor Machado.

- André, pode me chamar só de André.

4 comentários:

Anônimo disse...

q medo, jotapeludo!!!

ai, to começando a acreditar na tese de que todo homem é gay até q prove o contrário...

ps: kiki a Bia andou falando da gente, hein?

Anônimo disse...

Nossa, como vocês dois são pessimistas. Confesso que quando comecei a ler o post fiquei um pouco tensa, mas depois percebi que o André só estava tirando um sarro do Jota Ramos Pe e achei muito meigo ele querer sair com vocês, acho que prova que ele quer mesmo algo sério comigo ai ai ai..., de vocês para querer conhecer a minha mãe, será um passo.

E Marjorie querida, não se preocupe que só falei que vocês dois são amigos maravilhosos e portanto não me decepcione hein, trate bem o meu André, que de monstro não tem nada.

Spike disse...

é jogando verde que se colhe maduro... hahaha!
vai saber se esse machado tb não corta do outro lado... oras!

Anônimo disse...

a mulherada costuma gostar? q mulherada?