sábado, 26 de julho de 2008

Os Aprendizes

Quinta-feira foi meu primeiro dia no novo emprego. Minha função: escrever, vejam só. Não só isso, é claro. Terei que participar de montes de reuniões e resolver zilhões de pepinos e tocar alguns projetos bem sacais. Eu vou ser o responsável, por exemplo, por confeccionar um padrão para a agenda 2009 da firma.

Mas a minha principal função será reportar processos para os diretores da empresa, escrever discursos e fazer apresentações em powerpoint para os executivos. Está longe de ser o que realmente quero fazer, de todo modo, é bem melhor - e mais rentável - do que passar o dia naquela rotina burocrática na parte burocrática do hospital.

As pessoas de lá também parecem bem mais interessantes. Fui até convidado para uma festinha na casa do treinee da área, um garoto meio metido, mas gente boa, daqui a pouco. Chamei a Majô para ir comigo:

- Estou sem saco pra festinhas de adolescentes - ela reclamou.

- Vamos lá, vai ser legal. Se quer saber, o carinha faz bem o seu tipo.

- Ah é?? E qual é o meu tipo?

- Você sabe, ele é daqueles que sabem ou pensam que sabem de tudo sobre tudo. Mas na prática não sabem de nada.

- Eu gosto de tipos assim?

- Sim. E eles gostam de tipos como você.

Ela ficou de me pegar logo mais. Mas pelo tom de voz dela ao telefone, posso prever que o treinee está prestes a ser devorado...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Os dedinhos

O JP realmente acha que ninguém tem mais o que fazer além de lamentar das burradas que ele faz. Sim, a Majô e eu ficamos putas com vc. E acho que não só a gente. Ninguém tem mais paciência contigo, não percebeu? Só o teu irmãozinho encostado que comenta os teus posts.

Mas talvez eu não tivesse que te recriminar, afinal todos nós estamos sujeitos a recaídas. Acho que fiquei mais chateada de saber que não vamos mais trabalhar no mesmo lugar, mas sei que vai ser bom pra vc.

Dito isso, não podia deixar esse blog acabar com aquele finalzinho meia-boca felizinho do JP. As coisas não vão nada bem pra mim, e ficaram piores depois que ele saiu do hospital. André e eu continuamos no mesmo lenga-lenga sem emoção. Na cama, então, estamos mais parados do que nunca. Como se não bastasse, ainda tenho que suportar a mãe dele, que chegou ao absurdo de se convidar pra ir ao cinema com a gente outro dia, pode?

Ontem à noite, eu tive um um papo sério com a Majô. Ela me convenceu que só tem um jeito de provar se o André é gay ou não: acertando uma dedada nele. De começo eu achei a idéia absurda, mas acho que chegou a hora de encarar as coisas de frente. Ou de trás, sei lá...

sábado, 19 de julho de 2008

Blog ou amizade?

Faz uma semana que a Bia e a Majô decidiram me ignorar. Não sei se foi de propósito ou não, o fato é que desde que contei a elas do meu momento de fraqueza com Leandra as coisas não foram as mesmas. Eu conheço bem aquelas duas e sei que ambas estão putas comigo, a ponto de me ignorarem por um bom tempo.

E não deixo de dar razão a elas, já que nos últimos dois meses eu fiquei muito chato e quase um ermitão, isolado em casa e fazendo quase nada além de tocar e atualizar o blog. Foram elas que me deram a maior força, e ainda incentivaram o lance com a Cris, que também deve estar revoltada comigo.

Não sei nem se continuaremos a atualizar isso aqui. De certo modo, imaginei que o blog fortaleceria a nossa amizade, com cada um se intrometendo nas histórias do outro, contando a sua própria visão sobre algo ou alguém, protegidos no anonimato da internet e reagindo aos comentários de quem nos lesse sem preocupações com julgamentos. Protegidos, vírgula, porque, não sei como, pessoas próximas como a Leandra e o PH logo descobriram o nosso endereço.

Talvez por isso nenhuma delas tenha postado nada nesta semana. Ou talvez seja tudo paranóia minha. Deixei vários recados na caixa postal da Majô, que decidiu ignorá-los. Encontrei a Bia na terça-feira no hospital, mas ela estava superenrolada e não me deu atenção, graças ao monte de fedelhos que lota os inaladores nessa época do ano.

Para quem acompanha a minha saga, muita coisa aconteceu nesta semana: terminei de vez com Leandra (eu acho), fui convencido pelo PH (ou Pi eight como ele quer ser chamado agora) a montar uma nova banda (tá vendo, Majô!) e recebi uma proposta de emprego, que eu acho que devo a este blog, vejam só! Se este for o final, acho até que pode ser considerado feliz...

sábado, 12 de julho de 2008

A volta de L.

Leandra esteve em casa ontem. Eu nem queria escrever nada a respeito, mas tenho certeza de que ou a Majô ou a Bia iam acabar dando com a língua nos dentes. E tudo o que aconteceu não pára de martelar a minha cabeça, como uma ressaca de bebida falsificada.

Foi a primeira vez que nos encontramos desde o fim do namoro, coincidência ou não numa sexta-feira à noite, em casa.

Ela trouxe uma sacola com uns CDs, livros e tranqueiras que havia emprestado para ela e que eu já considerava perdidos. Mas ela não tinha a intenção de devolver, como pude logo perceber.

Enquanto eu conferia o conteúdo da sacola (os itens mais valiosos eram o Magical Mistery Tour, dos Beatles, e o Agosto, do Rubem Fonseca), ela foi tirando a roupa e, quando percebi (ok, percebi um pouco antes, mas fingi que não de propósito), ela já estava em cima de mim, desabotoando os meus botões.

- Espere - eu interrompi, heroicamente.

- Você tinha razão, João Pedro!

- Eu?

- Sim, não vamos mais falar sobre isso. Vem!

Tentei dizer que nós nem chegamos a conversar sobre assunto nenhum, mas nessa hora a cabeça de baixo já estava no comando. Foi uma transa como outra qualquer que tivemos nesses oito anos de relacionamento, até mesmo a abstinência de dois meses estava dentro da nossa média. Leandra não parou de falar um instante, reclamou que ficou muito mal longe de mim e que havia acabado de saber que bombou mais uma vez no exame da ordem.

É claro que fiquei péssimo depois que tudo acabou, me sentindo o pior dos seres humanos. Ela percebeu e logo retomou a falação. Contou que todos da família dela sentiram falta, a mãe, a irmã e principalmente a sobrinha pequena, que eu adoro.

- Acessava o blog todos os dias para saber de notícias suas - ela disse.

- É? - perguntei, doido para me dar uns tapas na cara.

- Um cara como você não fica sozinho muito tempo. Achei um absurdo essa história da Cris. Estava na cara que você não estava a fim dela.

- Mas eu estava, ou melhor, estou.

- Ai, João Pedro, esse tipo não é pra você. Mulher mais oferecida...

- E o que você acabou de fazer agora, não foi se oferecer?

- É diferente, nós somos namorados.

- Não somos mais.

- Esquece isso, tá? Vamos curtir o nosso momento...

Eu não queria nem achava certo ser rude com ela. Teria sido melhor se eu tivesse feito isso antes.

- Leandra, isso não vai dar certo.

- Como não? Você viu? Eu até emagreci só pra te agradar. Aí você vai poder dizer no seu blog como a sua namorada é gostosa.

- Eu gosto, ou melhor, gostava de você como você era - eu não parava de confundir os tempos verbais. E não havia notado nenhuma perda de peso.

- Eu sei, pisei na bola. Mas eu não fiquei com ninguém desde que a gente se separou, acredita?

- Teria sido melhor ser fiel enquanto nós estávamos juntos.

- Nossa, como você guarda rancor! - ela reclamou, cinicamente.

- Isso não vai dar certo, Leandra - repeti.

Em resposta, ela veio com um longo discurso, que de tão longo eu nem me lembro direito das palavras. Mas a moral da história era que, para a Leandra, eu não sei como são as mulheres hoje em dia. Elas mudaram muito e um cara como eu não saberia como lidar com isso.

- Veja só o exemplo da sua amiga Majô.

- O que tem ela?

- Ela parece o homem daquele blog! Enquanto você e a Bia ficam se lamentando, ela conta vantagens. Até hoje fico com pena daquele menino que ficou meio-mastro com ela.

- Esse cara teve o que mereceu, era um intelectualóide metido a besta. Além do mais, não admito que você fale da Majô desse jeito.

Leandra tentou remediar, dizendo que eu tinha razão, que não ia mais falar mal das minhas amigas. Mas era a mesma ladainha há oito anos, e agora eu estava vacinado, pelo menos contra esse tipo de armação. Ela foi embora pouco tempo depois prometendo voltar, como se nada tivesse acontecido. Mas, sim, algo aconteceu. Definitivamente.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Nocaute

Esse JP gosta de exagerar nos posts dele. O engraçado é que ele nem fala que, na verdade, estava era morrendo de medo da injeção. E todo mundo sabe que pra tomar injeção não é preciso mostrar a bunda toda, só o suficiente para higienizar o local e aplicar a medicação.

Pensando bem, a Majô é que está certa ao não se deixar envolver. Mas eu sei que ela também vai acabar se metendo em uma armadilha tão ruim ou até pior que a minha.

Imaginem só: terça-feira, véspera de feriado, André e eu de folga... tudo perfeito para uma escapadinha num motel... Se o idiota (pra não dizer outra coisa) não preferisse assistir a noite de boxe na ESPN.

"Eu não perco uma luta", ele diz, com um jeito de que está mais é fissurado no corpo dos lutadores. Afinal, que tipo de homem estende no próprio quarto um poster enorme do Mike Tyson?

Ai, JP, acho que vou querer te aplicar uma outra injeção, porque se depender do meu namorado...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

dose única

você desperta do sono sem abrir os olhos,
mas sabe que não está na sua cama.
é outra textura, outra maciez do colchão, outro cheiro.
e tem um braço embaixo da sua nuca.
a posição te incomoda e vc decide abrir os olhos.
e vê ao seu lado um rosto pouco conhecido.
fica observando os traços por alguns segundos,
a curva do nariz, os contornos da boca, os olhos.
repara nas remelas e acha engraçado.
respira fundo.
é hora de levantar.
mas você ainda não quer, está com um pouco de preguiça.
quer preservar por alguns minutos ainda o gosto de cabo de guarda-chuva que tem na boca.
pois sabe que, uma vez de dentes escovados, uma vez de roupa,
uma vez em pé a caminho da porta,
não vai mais voltar.

a Bia insiste em dizer q esse meu pensamento é bobagem. "ele vai te ligar, eu tenho certeza", ela diz. eu tento, mas é difícil faze-la entender que eu não estou nenhum pouco preocupada com isso, que tanto faz, uma vez se bastou. "não é possível, Majô, pq vc fica se fazendo de durona? vc nao gostou do cara?" e tento traduzir pra uma liguagem q talvez ela entenda: "Já ouviu falar em remédio de dose única, dona enfermeira?"

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Bom de cama, boa de seringa

Gripei. É a única explicação que encontro para o fato de não ter atualizado o blog no fim de semana e de ter caído na cama com uma febre de 38 graus (eu sei, é pouco, mas pra mim é o suficiente).

Quando contei para a Majô, pelo telefone, o motivo da minha ausência (do blog e da balada que ela havia arrumado pra gente), ela rotulou a minha doença de síndrome de "tô-com-medo-de-comer-a-Cris". Pode até ser que ela tenha razão, pois quando ela disse que a Cris estava ao lado dela parece até que meu estado piorou.

Pois bem, passei no médico hoje cedo (o mínimo que podia fazer, trabalhando em um hospital). Eu já me sentia melhor, mesmo assim ele (por sorte, não era o Dr. Machado) me receitou uma injeção.

E adivinhem quem estava lá, para aplicá-la?

- Que coincidência! - disse a Bia, quando me viu. - Vamos curar logo essa gripe que eu quero te ver na ativa!

- Espere aí, você não quer que eu...

- Eu preciso aplicar a injeção. E o melhor lugar é aí atrás, acredite.

- Eu não vou mostrar minha bunda pra vc!

- Vai, Jotapê! Sabe quantas bundas eu vejo todo dia?

- Não entende como isso é constrangedor?

- Ora, vai dizer que nunca imaginou que isso pudesse acontecer um dia?

- Imaginei, mas não era exatamente desse jeito, você, com essa seringa...

- Anda, seu pervertido! Vira logo de costas e baixa essa calça. E relaxa o músculo senão vai ficar doendo a semana toda!

- Como se fosse fácil.

- Quer que eu chame outra enfermeira? Ou quem sabe você prefira um enfermeiro...

- Não, não! Vai logo com esse troço. Mas cuidado!

Não posso dizer se ela fez ou não o trabalho direito. Só sei que minha bunda está doendo até agora. Mas a gripe, pelo menos, melhorou.

terça-feira, 1 de julho de 2008

de olhos bem fechados

quando leu aqui sobre a minha crise de consciência e o meu esforço pra ser uma pessoa melhor e mais controlada, a cris me convidou para ir no templo zulai, um templo budista em cotia. "quem sabe meditar nao ajuda?", disse ela toda solícita. eu sei lá. sempre achei isso da cris dizer que é budista meio coisa de gente metida a bacana q mora na vila madalena, só pq ela faz yoga (tem q falar iÔga, senão ela briga). mesmo pq eu sei muito bem q ela nao aplica na vida nada daquelas coisas q os budistas pregam de não ter desejo. te conheço, e bem, dona cris. desejos pulsam dentro da senhora. carnais e de consumo, como aquele de comprar uma casa de vila e pendurar aquele monte de móbiles lindos, dou o maior apoio.

daí, eu nao tinha nada pra fazer no domingo e resolvi aceitar o convite. o lugar é realmente lindo. adorei a arquitetura chinesa. por mim, tava tudo ótimo, tirei várias fotos e várias idéias de iluminacao secundária do lugar. até q ela resolveu q a gente tinha q meditar. fechei os olhos. "nao fecha os olhos" eu faço o q, entao? "shh fala baixo." era pra eu ficar com os olhos abertos - pra não dormir - e prestar atenção no q eu tava pensando. mas, só isso? "se vc prestar atenção no q vc está pensando, vc vai saber oq passa dentro dessa cabecinha", sussurou. mas isso nao é óbvio?

ok, resolvi aceitar o "desafio". e tudo o q passou pela minha cabeça enquanto eu meditava foi: mas que saco! q chato todo mundo quieto. que insenso enorme. será q eles acendem tudo de uma vez? ai, tá meio desconfortável. meu pé vai dormir. será q na lojinha lá fora tem lanterna japonesa? tem um mosquito aqui dentro. sai, sai, não vai grudar no meu cabelo. ai, meu pé. nossa, que moço lindo é esse que está entrando agora? gente! de onde surgiu? senta aqui do meu lado, senta, bebê? isso, segue mais pra esquerda, mais, mais. agora entra na minha fileira. não, caralho, era nessa aqui. viadinho. nossa, ele sabe meditar, ele sentou direitinho, tem bom alongamento. será que é gay? acho q não. ai, meu pé tá dormindo. eu tenho q dar um jeito de falar com esse cara, ele deve conhecer várias posições. q dor. não vai acabar logo isso aqui? caramba. o cara já tá indo embora. puta que o pariu. e agora? ai, meu deus. acaba logo! filha da puta, a cris dormiu!!!!!

- acorda, sua louca!
- ã? oq? desculpa.
- meu pé qse gangrenou!
- conseguiu meditar?
- meditei tanto q tive uma visão do amor da minha vida. só q vc dormiu e ele foi embora.
- ã?
- deixa pra lá.

sábado, 28 de junho de 2008

Síndrome do pânico

- Jotapê, cadê você? - era a Bia, no telefone.

- Tô sem idéia pra atualizar o blog.

- Esquece o blog e vem pra cá! A Cris tá aqui.

- Eu sei, a Majô disse que ela ia.

- Então?

- Não sei, fico aqui pensando... e se as coisas não derem certo entre a Cris e eu? Será que eu vou ter coragem de contar no blog?

- A Majô vai te encher o saco se você não contar com todos os detalhes...

- A Majô é .

- E você é um medrosão! A Cris não morde! Quer dizer, pode até morder, mas isso aí é com vocês.

- Não vê que eu estou passando por uma fase difícil?

- Ai ai... E ainda fica pegando no pé do André, hein? Ele pelo menos aparece e está aqui, já você...

- É diferente. Minha masculinidade não está em jogo. Estou um pouco inseguro, passei oito anos namorando uma pessoa, o que você queria?

- Eu? Que você viesse aqui curtir com a gente e esquecesse a Leandra de uma vez.

- Não sei. Acho que prefiro atualizar o blog, por enquanto.